Renata Rivetti conquistou carreira de sucesso, mas sentia falta de criar impacto.
É possível ter felicidade no trabalho? Renata Rivetti acredita que não só é possível — como é preciso estimular relações saudáveis no ambiente corporativo. Depois de ver de perto comportamentos de lideranças tóxicas, ela resolveu se especializar no assunto.
Renata criou e dirige uma empresa especializada em felicidade corporativa — a Reconnect Happiness at Work. A Universa, ela defende que não se deve mais postergar a felicidade.
Desde que saí da faculdade de administração, há 18 anos, queria atuar com algo significativo, que gerasse impacto positivo social.
Me tornei trainee em uma grande multinacional na área de marketing. Cresci na carreira. Virei líder e, neste momento, percebi que os líderes têm influência grande para ajudar a desenvolver pessoas. Foi assim que percebi que queria me dedicar mais a esse tema.
“Conquistei muito do que é sonhado pela sociedade: uma carreira de sucesso, bom salário, benefícios, bônus, mas comecei a sentir falta de um significado maior em minha vida.”
Quando me especializei nos “estudos da felicidade”, entendi que esse conhecimento precisava ser desmistificado e expandido.
Se todo mundo quer ser feliz, por que temos os piores indicadores possíveis? Por que só estudamos as doenças e não o que faz o ser humano feliz? Assim, percebi que queria levar esse tema para ambientes tóxicos e adoecidos, como as empresas.
‘Vi pessoas se sentirem desrespeitadas’
Pelos ambientes profissionais que passei, vi muitas pessoas adoecendo. Eu mesma, numa época, banalizava o estresse, a ansiedade e a infelicidade no trabalho, como se fosse algo normal e o trabalho fosse somente um fardo mesmo.
Tive a sorte de ter líderes inspiradores em minha jornada, mas trabalhando em grandes empresas vi também comportamentos de líderes tóxicos, que adoeciam pessoas com comando e controle, em relações de baixa confiança e falta de segurança psicológica.
“Vi muito medo de pessoas perderem o emprego se não se submetessem a tudo o que era exigido, mesmo que fosse algo errado, como trabalhar até as 22 horas, sofrer humilhação ou algo assim.
Muitas pessoas de grupos minorizados se sentiam desrespeitadas e desvalorizadas.
‘Pessoas felizes se engajam”
Uma pessoa que não gosta do que faz não se sente psicologicamente segura. Na verdade, ela se sente sobrecarregada ou pouco valorizada e reconhecida, o que tende a impactar sua saúde mental.
Estamos vendo altos índices de ansiedade, depressão, solidão, burnout. Um indivíduo adoecido não consegue estar engajado, motivado, produtivo e, obviamente, feliz.
Enquanto isso, as pessoas felizes no trabalho têm melhores relacionamentos, se engajam mais em suas atividades, são mais inovadoras e produtivas, falam bem da empresa, colaboram mais com os outros, entre outros aspectos.
Se formos pensar, parece óbvio que quem gosta do que faz se sente valorizado, reconhecido, tem um senso de propósito e de realização pessoal e é alguém que se dedica e engaja mais. E, é claro, isso reflete na vida pessoal. É um ciclo virtuoso.
‘Pandemia trouxe mudanças’.
Por muito tempo, as pessoas achavam que estar infeliz no emprego era normal e que o trabalho era somente um fardo para pagar contas. A pandemia trouxe mudanças pessoais, qualidade de vida e reflexões profundas sobre a brevidade da vida.
Juntou tudo isso com as novas gerações questionando a qualidade de seu tempo, buscando mais qualidade de vida e flexibilidade do que status, poder e bom salário.
Como consequência, têm surgido movimentos como a ‘grande renúncia’, ‘quiet quitting’ e outros, mostrando que não dá mais para trabalharmos sem realização, significado ou satisfação.
Até quando esperar?
A maioria de nós trabalhará mais de 80 mil horas na vida. Se formos esperar para sermos felizes na aposentadoria, será que isso vai acontecer? Felicidade tem a ver com a jornada, com o dia a dia, com o aqui e o agora.
Não precisamos gostar de tudo o que fazemos ou estarmos motivados o tempo todo, porém, já que grande parte da nossa vida é trabalhando, é importante nos sentirmos realizados, encontrarmos um significado, termos desafios que nos engajem, construirmos boas relações e — quem sabe? — momentos agradáveis.
“Da mesma forma, é talvez romântica e ilusória aquela afirmação de “escolha um trabalho que você ame e nunca terá que trabalhar”. Ninguém só fará o que gosta o dia todo. Há momentos de burocracia, de tédio, de ansiedade no trabalho.”
Trabalho é trabalho e não vai deixar de ser.
Quando desmistificamos que felicidade corporativa não é um ambiente colorido ou festas e compreendemos que tem a ver com o trabalho em si e com as relações envolvidas fica mais fácil entender que times mais felizes são mais engajados e geram mais resultado.
‘A felicidade pode ser treinada’.
Não é fácil, não basta querer. É preciso autoconhecimento e disciplina para ser feliz. É preciso cuidar da saúde mental, física, das relações, encontrar mais sentido nas escolhas pessoais e buscar novos desafios. Uma vida sem desafios não traz felicidade; traz tédio.
As pessoas esperam que, quando falamos que somos felizes, sejamos alegres e eufóricos o tempo todo. Como sou introvertida, a minha felicidade está em encontrar uma vida com significado, sentir que impacto, de alguma forma, positivamente outras pessoas, me sentir realizada e reconhecida e ter um grupo de apoio de muito amor em minha vida.